Estou no ponto de ônibus.
Negro, cabelos grisalhos, sessenta e poucos anos. Boa aparência se aproxima.
O céu está cinza. Pingos d’água,
vento. Começa a chuva. São Paulo, Terra da Garoa. O Homem negro abre o guarda
chuvas. Meus óculos já estão com as lentes molhadas. Abro também o meu. Mudo de
ideia, fecho o guarda chuvas e acendo um cigarro. A chuva cai sobre meu corpo.
Molha minha alma.
O homem negro puxa assunto
debaixo de seu guarda chuvas. Fala de seus problemas com o INSS. Apenas faço um
gesto com a cabeça. Não quero conversa hoje, apenas quero a chuva que se
mistura com a fumaça do meu cigarro.
A chuva continua, o homem
negro fala e eu fumo. E mais chuva. E mais vento.
O ônibus surge na esquina. Última
tragada. Fumaça no ar. O homem fala. Eu escuto. Dou sinal. Jogo o cigarro. O
homem negro me deseja sorte. Entro no ônibus. A chuva continua.
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